SOBRE ORGASMOS E OUTRAS PLENITUDES
por SUSY ALMEIDA
Orgasmo vem do grego. Não, não falo de beijo grego, leitora linda! Falo do idioma grego e da palavra orgasmo na nossa língua. Redescobri isso no começo do mês, ao aceitar a proposta para escrever uma crônica em alusão ao Dia do Orgasmo feita pela
editora desta página. Como para mim tudo se inicia com a língua (de novo, o idioma, leitora, mas a ambiguidade é bem-vinda!), pesquisei sobre a origem dessa palavra para poder escrever. Um dos significados dá numa palavra bonita do português: plenitude,
que é “o estado do que está cheio, completo”, diz o Aulete. O orgasmo, cara leitora sorridente, nada mais é do que a completude, a totalidade da experiência sexual. É ali que se resolve e se completa a tensão sexual sustentada por você e pela pessoa com
quem você quis transar.
Plenitude, porém, é palavra-gatilho, cujo sentido dispara o senso de falta, pois só se pode fazer pleno o que se sabe incompleto. Em mim, ela dispara Clarice: “a plenitude é também uma explosão”, o que afina bem com a explosão que a gente sente corpo adentro ao gozar.
O que é interessante, leitora do coração palpitante, é que orgasmo, tal como bomba, a gente arma. Quem arma bomba sabe unir substâncias químicas explosivas, ligar os fios certos e controlá-los para explodir o que quer. Quem arma bomba estuda e constrói
sua explosão. Não é diferente com nosso orgasmo de mulher, que é armado não apenas pelo que o parceiro ou a parceira nos faz, mas, sobretudo, por como se arma o espírito e o corpo para viver a sexualidade e o sexo. O orgasmo é feito também de
estudar e construir o próprio gozo, porque, antes de uma relação nos plenificar (nem que seja só da plenitude de uma trepada!), vem você estar realmente bem com quem você é. O prazer com quem você quer trepar ou fazer amor vem sempre do prazer de si.
Clarice diz que “a plenitude é uma das verdades encontradas”. Completo: é encontrada porque é buscada e só se busca o que se conhece.
Susy Almeida é Doutora e mestre em Linguística e professora de português e alemão em Fortaleza.
(Contatos: (@susyanne.ac )