PERIFOBIA

PERIFOBIA

Lilia Guerra conta que criou o neologismo que dá título a este livro depois de perceber o quanto a periferia pode causar repulsa. Os personagens deste elogiado conjunto de histórias, partilham desse conhecimento de que habitam zonas negligenciadas das grandes cidades. Mas se a distância da quebrada impõe novas formas de lidar com a precariedade, as mulheres, homens e crianças deste livro transcendem toda e qualquer limitação que porventura tente aniquilá-los. E isso tudo graças à escrita luminosa de Lilia Guerra.

“Os contos de Perifobia traçam um painel da vida humilde na periferia de São Paulo, a quarta maior megalópole e considerada também uma das cidades mais desiguais do mundo em distribuição de renda. Por isso Perifobia de Lilia Guerra pode e deve ser lida como uma obra universal, pois fala a muitos de uma quebrada para outras quebradas.

Longe de serem contos amargos, apesar do retrato da violência urbana do ponto de vista de um povo marginalizado, porque desassistido pelo poder público desde tempos coloniais, Perifobia é uma resposta elegante a opressão do Estado representado pela polícia aliado ao sorriso da sociedade, historicamente escravista e violenta.

Aqui Lilia mostra como parcela considerável da população da favela/comunidade, do morro, dos conjuntos habitacionais (CDHU) driblam a miséria, a fome, o desemprego, enfim, a falta de recursos se virando como podem em bicos e subempregos, mesmo em meio às possibilidades tentadoras de ascensão social prometidas pelo ingresso na criminalidade.

Há um movimento literário em andamento no Brasil, um movimento em gestação e que vem crescendo ao longo dos anos: a chamada Literatura Marginal. Autores como Paulo Lins (Cidade de Deus), Ferréz (Capão pecado), Jessé Andarilho (Fiel), Sacolinha (85 letras e um disparo), José Falero (Vila Sapo), círculo de autores ‘periféricos’ do qual também podemos destacar a autora de Perifobia Lilia Guerra, são unânimes ao elegerem como precursores canônicos da Literatura Marginal, autores como Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus, João Antônio, dentre outros.

A Literatura Marginal traz à luz a voz da periferia, entoada por seus representantes natos. E tem mais: esta Literatura pode ter entrado pela porta dos fundos, mas conquistou o mercado editorial trazendo autores até então marginalizados produzindo uma obra que retrata a realidade dos morros, das favelas, das comunidades, dos conjuntos habitacionais; uma literatura que grita no berro da polícia política do Estado (mesmo quando com a delicadeza de Lilia Guerra como num samba de Cartola interpretado por Paulinho da Viola), uma literatura que clama por seu espaço e se impõe.

De modo que não se trata de uma literatura periférica, porque aqui a periferia é o centro.”

 

Editora Todavia; 1ª edição (10 março 2025)

Idioma Português

Capa comum 160 páginas

ISBN-10 6556927708

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