Hilda de Almeida Prado Hilst, mais conhecida como Hilda Hilst, completaria nesse mês de 90 anos. Ficcionista, poeta, cronista ,dramaturga, deixou sua marca, muitas vezes marcada pela polêmica, sobre todas as formas de arte onde atuou. Em TEXTOS ESCOLHIDOS dessa edição, poemas e obras selecionadas da autora.
1) POEMAS
E por que haverias de querer…
E por que haverias de querer minha alma Na tua cama? Disse palavras liquidas, deleitosas, ásperas Obscenas, porque era assim que gostávamos. Mas não menti gozo prazer lascívia Nem omiti que a alma está além, buscando Aquele Outro. E te repito: por que haverias De querer minha alma na tua cama? Jubila-te da memória de coitos e de acertos. Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
De tanto te pensar
De tanto te pensar, me veio a ilusão. A mesma ilusão Da égua que sorve a água pensando sorver a lua. De te pensar me deito nas aguadas E acredito luzir e estar atada Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, tenho nada, Mas acredito em mim o ouro e o mundo. De te amar, possuída de ossos e abismos Acredito ter carne e vadiar Ao redor dos teus cismos. De nunca te tocar Tocando os outros Acredito ter mãos, acredito ter boca Quando só tenho patas e focinho.
De muito desejar altura e eternidade Me vem a fantasia de que Existo e Sou. Quando sou nada: égua fantasmagórica Sorvendo a lua n’água.
Poesia XXII
Não me procures ali Onde os vivos visitam Os chamados mortos. Procura-me Dentro das grandes águas Nas praças Num fogo coração Entre cavalos, cães, Nos arrozais, no arroio Ou junto aos pássaros Ou espelhada Num outro alguém, Subindo um duro caminho
Pedra, semente, sal Passos da vida. Procura-me ali. Viva.
Que este amor não me cegue nem me siga
Que este amor não me cegue nem me siga. E de mim mesma nunca se aperceba. Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas Pois formas tão perfeitas de beleza Vêm do fulgor das trevas. E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente E farta de fadigas. E de fragilidades tantas Eu me faça pequena. E diminuta e tenra Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.
III Isso de mim que anseia despedida (Para perpetuar o que está sendo) Não tem nome de amor. Nem é celeste Ou terreno. Isso de mim é marulhoso E tenro. Dançarino também. Isso de mim É novo: Como quem come o que nada contém. A impossível oquidão de um ovo. Como se um tigre Reversivo, Veemente de seu avesso Cantasse mansamente. Não tem nome de amor. Nem se parece a mim. Como pode ser isto? Ser tenro, marulhoso Dançarino e novo, ter nome de ninguém E preferir ausência e desconforto Para guardar no eterno o coração do outro.
( De Cantares do sem nome e de partidas)
Para poder morrer
Para poder morrer Guardo insultos e agulhas Entre as sedas do luto. Para poder morrer Desarmo as armadilhas Me estendo entre as paredes Derruídas Para poder morrer Visto as cambraias E apascento os olhos Para novas vidas Para poder morrer apetecida Me cubro de promessas Da memória. Porque assim é preciso Para que tu vivas.
Aflição de ser eu e não ser outra
Aflição de ser eu e não ser outra. Aflição de não ser, amor, aquela Que muitas filhas te deu, casou donzela E à noite se prepara e se adivinha Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha Que te retém e não te desespera. (A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra E ter a face conturbada e móvel. E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera. Aflição de te amar, se te comove. E sendo água, amor, querer ser terra.
Fragmentos
Muros castos e tristes Cativos de si mesmos
Como criaturas que envelhecem Sem conhecer a boca De homens e mulheres.
Muros Escuros, tímidos: Escorpiões de seda No acanhado da pedra.
Há alturas soberbas Danosas, se tocadas. Como a tua própria boca, amor, Quando me toca…
Cantares de Perda e Predileção
Eu amo Aquele que caminha
Antes do meu passo
É Deus e resiste.
Eu amo a minha morada
A Terra triste.
É sofrida e finita
E sobrevive.
Eu amo o Homem-luz
Que há em mim.
É poeira e paixão
E acredita.
Amo-te, meu ódio-amor
Animal-Vida.
És caça e perseguidor
E recriaste a Poesia
Na minha Casa.
(XXIII)
* * *
Vida da minha alma:
Um dia nossas sombras
Serão lagos, águas
Beirando antiqüíssimos telhados.
De argila e luz
Fosforescentes, magos,
Um tempo no depois
Seremos um só corpo adolescente.
Eu estarei em ti
Transfixiada. Em mim
Teu corpo. Duas almas
Nômades, perenes
Texturadas de mútua sedução.
(LXVII)
(Cantares de Perda e Predileção – São Paulo: Massao Ohno & M. Lydia Pires e Albuquerque Editores, 1983)
Dez Chamamentos Ao Amigo
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(I)
[Poesia: 1959-1979 – São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]
Poemas aos Homens do nosso Tempo
Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) – Poemas aos Homens do nosso Tempo – II)
* * *
Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.
Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.
Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) – Poemas aos Homens do nosso Tempo – VIII)
* * *
Bombas limpas, disseram? E tu sorris
E eu também. E já nos vemos mortos
Um verniz sobre o corpo, limpos, estáticos,
Mais mortos do que limpos, exato
Nosso corpo de vidro, rígido
À mercê dos teus atos, homem político.
Bombas limpas sobre a carne antiga.
Vitral esplendente e agudo sobre a tarde.
E nós na tarde repensamos mudos
A limpeza fatal sobre nossas cabeças
E tua sábia eloqüência, homens-hienas
Dirigentes do mundo.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) – Poemas aos Homens do nosso Tempo – XIV)
* * *
Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
E à espera de que tu prevaleças
À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.
As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências, o amor dilacerado dos homens
Meu próprio amor que é o teu
O mistério dos rios, da terra, da semente.
Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu
Compaixão e ternura e paz na Terra
Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) – Poemas aos Homens do nosso Tempo – IX)
* * *
Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas.
As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,
Se debruçam banais, sobre as vitrines curvas.
Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.
Te pergunto: E a entranha?
De ti mesma, de um poder que te foi dado
Alguma coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,
Tua aventura de ser, tão esquecida?
Por que não tentas esse poço de dentro
O incomensurável, um passeio veemente pela vida?
Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada
De ter teu rosto verdadeiro, desejarias nada.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) – Poemas aos Homens do nosso Tempo – XIII)
* * *
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) – Poemas aos Homens do nosso Tempo – XVI)
(Poesia: 1959 – 1979 – São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)
Amavisse
Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.
Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.
(II)
* * *
Descansa.
O Homem já se fez
O escuro cego raivoso animal
Que pretendias.
(Via Vazia – VIII)
(Amavisse – São Paulo: Massao Ohno Editor, 1989.)
Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.
Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
(Da Noite – 1992)
O Poeta Inventa Viagem, Retorno e Morre de Saudade
Se for possível, manda-me dizer:
– É lua cheia. A casa está vazia –
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
– É lua nova –
E revestida de luz te volto a ver.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) – O Poeta Inventa Viagem, Retorno e Morre de Saudade – I )
(Poesia: 1959 – 1979 – São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)
Para poder morrer
Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.
***
É meu este poema ou é de outra?
Sou eu esta mulher que anda comigo
E renova a minha fala e ao meu ouvido
Se não fala de amor, logo se cala?
Sou eu que a mim mesma me persigo
Ou é a mulher e a rosa escondidas
(Para que seja eterno o meu castigo)
Lançam vozes na noite tão ouvidas?
Não sei.
De quase tudo não sei nada.
O anjo que impulsiona o meu poema
Não sabe da minha vida descuidada.
A mulher não sou eu.
E perturbada
A rosa em seu destino, eu a persigo
Em direção aos reinos que inventei.
Extraído do livro POESIA (1959/1967)
Cantares
Escreveste meu nome
Sobre a água?
A fogo, na alma
Desenhei o teu
Grafismo iluminado
Imantado e novo
Teu nome e o meu.
Novo Porque nunca se viu
Nome tão pertencido.
Antigo porque há milênios
Se entrelaçaram justos
No infinito.
E raro
Porque tingido de um mosaico vivo
De danação e amor.
Teu nome.
Irmão do meu.
(Canto : XXXIX, do livro Cantares, editora Globo, 2001)
Testamento lírico
Se quiserem saber se pedi muito
Ou se nada pedi, nesta minha vida,
Saiba, senhor, que sempre me perdi
Na criança que fui, tão confundida.
À noite ouvia vozes e regressos.
A noite me falava sempre sempre
Do possível de fábulas. De fadas.
O mundo na varanda. Céu aberto.
Castanheiras douradas. Meu espanto
Diante das muitas falas, das risadas.
Eu era uma criança delirante.
Nem soube defender-me das palavras.
Nem soube dizer das aflições, da mágoa
De não saber dizer coisas amantes.
O que vivia em mim, sempre calava.
E não sou mais que a infância. Nem pretendo
Ser outra, comedida. Ah, se soubésseis!
Ter escolhido um mundo, este em que vivo,
Ter rituais e gestos e lembranças.
Viver secretamente. Em sigilo
Permanecer aquela, esquiva e dócil.
Querer deixar um testamento lírico
E escutar (apesar) entre as paredes
Um ruído inquietante de sorrisos
Uma boca de plumas, murmurante.
Nem sempre há de falar-vos um poeta.
E ainda que minha voz não seja ouvida
Um dentre vós, resguardará (por certo)
A criança que foi. Tão confundida.
2) CRÔNICAS
Tô Só
Crônica de Hilda Hilst para o “Correio Popular” de Campinas-SP
Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá
de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?
E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar…
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.*
Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.
* Trovas de muito amor para um amado senhor – SP: Anhambi, 1959
Delicatessen
– Crônica de Hilda Hilst para o Correio Popular de Campinas-SP –
Você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais. Das criaturas. Vá lá. Gosto de voltar a este tema. Outro dia apareceu uma moça aqui. Esguia, graciosa, pedindo que eu autografasse meu livro de poesia, “tá quentinho, comprei agora”. Conversamos uns quinze minutos, era a hora do almoço, parecia tão meiga, convidei-a para almoçar, agradeceu muito, disse-me que eu era sua “ídala”, mas ia almoçar com alguém e não podia perder esse almoço. Alguém especial?, perguntei. Respondeu nítida: “pé-de-porco”. Não entendi. Como? “Adoro pé-de-porco, pé-de-boi também”. Ahn… interessante, respondi. E ela se foi apressada no seu Fusquinha. Não sei por que não perguntei se ela gostava também de cu de leão. Enfim, fiquei pasma. Surpresas logo de manhã.
Olga, uma querida amiga passando alguns dias aqui conosco, me diz: pois você sabe que me trouxeram uma noite um pé-perna de porco, todo recheado de inverossímeis, como uma delicadeza para o jantar? Parecia uma bota. Do demo, naturalmente. E lendo uma entrevista com W. H. Auden, um inglês muito sofisticado, o entrevistador pergunta-lhe: “O que aconteceu com seus gatos?” Resposta: “Tivemos que matá-los, pois nossa governanta faleceu”. Auden também gostava de miolo, língua, dobradinha, chouriços e achava que “bife” era uma coisa para as classes mais baixas, “de um mau gosto terrível”, ele enfatiza. E um outro cara que eu conheci, todo tímido, parecia sempre um urso triste, também gostava de poesia… Uma tarde veio se despedir, ia morar em Minas… Perguntei: “E todos aqueles gatos de que você gostava tanto?” Resposta: “Tive de matá-los”. “Mas por quê?!” Resposta: “Porque gatos gostam da casa e a dona que comprou minha casa não queria os gatos”. “Você não podia soltá-los em algum lugar, tentar dar alguns?” Olhou-me aparvalhado: “Mas onde? Pra quem?” “E como você os matou?” “A pauladas”, respondeu tranqüilo, como se tivesse dado uma morte feliz a todos eles. E por aí a gente pode ir, ao infinito. Aqueles alemães não ouviam Bach, Wagner, Beethoven, não liam Goethe, Rilke, Hölderlin(?????) à noite, e de dia não trabalhavam em Auschwitz? A gente nunca sabe nada sobre o outro. E aquele lá de cima, o Incognoscível, em que centésima carreira de pó cintilante sua bela narina se encontrava quando teve a idéia de criar criaturas e juntá-las? Oscar, traga os meus sais.
(Segunda-feira, 1 de março de 1993)
3) FORTUNA CRÍTICA
Sobre A Obscena Senhora D
por Caio Fernando Abreu
D de derrelição, desamparo, abandono. Ou, em linguagem jurídica, “abandono voluntário de coisa móvel, com a intenção de não mais a ter para si”. Por exemplo, o corpo? E por que obscena? Pela voz da autora: “…e o que foi a vida? uma aventura obscena, de tão lúcida”. No vão da escada de sua casa escura, essa obscena Senhora D nos contempla através dos buracos dos olhos das “máscaras de focinhez e espinhos amarelos” que costuma usar. Para falar “dessa coisa que não existe mas é crua e viva, o Tempo”, para cuspir em nosso rosto a pequenez, a perdição humana, para dizer que “ninguém está bem, estamos todos morrendo”. Enquanto se dissolvem no aquário peixes pardos recortados em papel.
Poeta, dramaturga, ficcionista, Hilda Hilst é talvez o nome mais controvertido da literatura brasileira contemporânea. Para alguns críticos, como Léo Gilson Ribeiro, trata-se do “maior escritor vivo em língua portuguesa”. Para outros, simplesmente ilegível, incompreensível em seu código expressivo pessoalíssimo e deliberadamente cifrado. Pairando acima de todas as negações de sua obra, Hilda avança numa viagem cada vez mais ousada, cada vez mais funda.
A história – se é que há uma história aqui – é simples: após a morte do amante, Hillé, a Senhora D, se recolhe ao vão da escada, “um Nada igual ao teu, repensando misérias, tentando escapar, como tu mesmo, contornando um vazio, relembrando”, em direção à própria morte. Numa prosa que se dilata e contrai, às vezes estufada, barroca, repleta de cintilâncias, outras se fazendo navalha, corte seco, a linguagem de Hilda Hilst avança sobre as camisas-de-força da sintaxe para desvendar insuspeitados espaços. O resultado é um texto que, fora de nossa literatura, ao lado de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, só encontraria paralelo em Joyce ou Samuel Beckett. Mais além: é vivo.
Sons, trinados, gritos, urros, rouquidões. Asa. Impossível aventurar-se nestas páginas sem entrega. Inútil municiar-se apenas das armas da razão. Hipnótico, o discurso de Hilda envolve como águas – às vezes lodosas, às vezes claras – e numa vertigem nos arrasta, de susto em susto, cada vez mais para perto daquilo que Joyce chamava de “o selvagem coração da vida”. Onde tudo pode acontecer. De uma facada pelas costas a um apaixonado beijo de amor, “jorrando volúpia e ilusão”. Traiçoeiras e sensuais, as palavras ofegam e palpitam, como se tivessem carne, sangue, músculos, nervos, ossos. E além disso: uma aura impalpável, uma alma indizível. Uma alma que procura cega, obsessiva, pelo invisível que nos disseram haver um dia: Deus.
Como a Senhora D, sem Deus, no fim do milênio, entre miséria, loucura e lixo atômico, para nós mesmos a vida pode ter sido ou – mais terrível – estar sendo somente “uma angústia escura, um nojo negro”. Contra isso, Hilda grita. Como a Senhora D, a obscena, a sapa, a porca, nos vemos ao final também assim, perplexos, nus: “um susto que adquiriu compreensão”. Mas sempre se pode gostar de porcos. Gostar de gente, também. Por amar a condição humana, Hilda escreve. Um olho no divino, um outro em Astaroth. Ninguém sairá ileso. Como não se sai, afinal, da própria vida.
(São Paulo, julho de 1982)
4) VIDA E OBRA
Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso. Com pouco tempo de vida, seus pais se separaram, o que motivou sua mudança, com a mãe, para a cidade de Santos (SP). Seu pai, que sofria de esquizofrenia, foi internado num sanatório em Campinas (SP), tendo nessa época 35 anos de idade. Até sua morte passou longos períodos em sanatórios para doentes mentais. Foi para o colégio interno, Santa Marcelina, na cidade de São Paulo, em 1937, onde estudou por oito anos. No ano de 1945 matricula-se no curso clássico da Escola Mackenzie, também naquela cidade. Morava, nessa época, num apartamento na Alameda Santos, com uma governanta de nome Marta.
Em 1946, pela primeira vez, visitou o pai em sua fazenda em sua cidade natal, Jaú. Em apenas três dias, no pouco tempo que passou com ele, perturbou-se com sua loucura. Em “Carta ao Pai” diz a biografada: “Só três noites de amor, só três noites de amor”, implorava o pai, sim, o pai, ele nunca fizera uma coisa como essa, sim, era Jaú, interior de São Paulo, um dia qualquer de 1946, sim, a filha deslumbrante, tremendo em seus 16 anos, sim, o pai a confundia com a mãe, a mão dele fechada sobre a dela, sim, o pai a confundia com a mãe, a confundia, sim?…” Aconselhada pela mãe, em 1948 inicia seus estudos de Direito na Faculdade do Largo do São Francisco. A partir de então levaria uma vida boêmia que se prolongou até 1963. Moça de rara beleza, Hilda comportava-se de maneira muito avançada, escandalizando a alta sociedade paulista.
Despertou paixões em empresários, poetas (inclusive Vinicius de Moraes) e artistas em geral. Em 1949 é escolhida para saudar, entre os alunos de Direito, a escritora Lygia Fagundes Telles, por ocasião do lançamento de seu livro de contos “O Cacto Vermelho”. Hilda lança, nos dois anos seguintes, seus primeiros livros: “Presságio” (1950), e “Balada de Alzira” (1951). Conclui o curso de Direito em 1952. Três anos depois publica “Balada do Festival”. No ano de 1957 viaja pela Europa por sete meses (junho a dezembro). Namora com o ator americano Dean Martin e, fazendo-se passar por jornalista, assedia, sem sucesso, Marlon Brando, outro galã de Hollywood. Em 1959 publica o livro de poesia “Roteiro do silêncio” e “Trovas de muito amor para um amado senhor”. José Antônio de Almeida Prado, primo da escritora, inspira-se em poemas desse último livro e compõe a “Canção para soprano e piano”. Em outras oportunidades voltou a basear-se em textos de Hilda para compor alguns de seus trabalhos mais significativos.
Os compositores Adoniran Barbosa (“Quando te achei”) e Gilberto Mendes (“Trovas”), entre outros, também se inspiraram em textos da autora. “Ode fragmentária” é lançado em 1961. Seu livro “Trovas de muito amor para um amado senhor” é reeditado por Massao Ohno. É agraciada com o Prêmio Pen Club de São Paulo pelo livro “Sete cantos do poeta para o anjo”, em 1962. Passa a morar na Fazenda São José, a 11 quilômetros de Campinas (SP), de propriedade de sua mãe. Abre mão da intensa vida de convívio social para se dedicar exclusivamente à literatura. Tal mudança foi influenciada pela leitura de “Carta a El Greco”, do escritor grego Nikos Kazantzakis. Entre outras teses, defende o escritor a necessidade do isolamento do mundo para tornar possível o conhecimento do ser humano. Muda-se para a Casa do Sol, construída na fazenda, onde passa a viver com o escultor Dante Casarini, em 1966. Morre seu pai.
Em 1967 redige “A possessa” e “O rato no muro”, iniciando uma série de oito peças teatrais que escreveria até 1969. Lança “Poesia (1959 / 1967)”. Por imposição da mãe, internada no mesmo sanatório em Campinas onde estivera seu pai, casa-se com Dante Casarini, em 1968. Escreve as peças “O visitante”, “Auto da barca de Camiri”, “O novo sistema” e “As aves da noite”. “O visitante” e “O rato no muro” são encenadas no Teatro Anchieta, em São Paulo, para exame dos alunos da Escola de Arte Dramática, sob direção de Terezinha Aguiar.
Em 1969 escreve “O verdugo” e “A morte do patriarca”. A primeira recebe o Prêmio Anchieta. A montagem de “O rato no muro”, sob a direção de Terezinha Aguiar, é apresentada no Festival de Teatro de Manizales, na Colômbia. “Fluxo-Floema”, sua primeira obra em prosa, é lançada em 1970. A peça “O novo sistema” é encenada em São Paulo, no Teatro Veredas, pelos Grupo Experimental Mauá (Gema), sob a direção de Terezinha Aguiar. Baseando-se nos experimentos do pesquisador sueco Friedrich Juergenson relatados no livro “Telefone para o além”, Hilda Hilst iria se dedicar, ao longo desta década que se iniciava, à gravação, através de ondas radiofônicas, de vozes que, assegurava, seriam de pessoas mortas. No mesmo período anunciou a visita de discos voadores à sua fazenda. “O verdugo” é editado em livro, e é, até hoje, a única que não é inédita. Morre sua mãe, Bedecilda.
Em 1972 o Grupo de Teatro Núcleo, da Universidade Estadual de Londrina, sobre a direção de Nitis Jacon A. Moreira, encena a peça “O verdugo”. Essa mesma peça é encenada no Teatro Oficina, em São Paulo, sob a direção de Rofran Fernandes, no ano seguinte, época em que foi lançado seu novo livro “Qadós”. “Júbilo, memória, noviciado da paixão” é lançado em 1974. No ano de 1977 é publicado o livro “Ficções”, que recebe o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), como “Melhor Livro do Ano”.
Três anos depois, 1980, saem os livros “Poesia (1959/1979)”, “Da morte. Odes mínimas”, e “Tu não te moves de ti”. Recebe da APCA o prêmio pelo conjunto da obra. Estréia a montagem de “As aves da noite” no Teatro Ruth Escobar, com direção de Antônio do Valle. Divorcia-se de Dante Casarini, mas o ex-marido continua morando na Casa do Sol. Passa a fazer parte do Programa do Artista Residente da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em 1982. Lança “A obscena senhora D”. No ano seguinte publica “Cantares de perda e predileção”, que recebe os prêmios Jabuti (da Câmara Brasileira do Livro) e Cassiano Ricardo (do Clube de Poesia de São Paulo). Em 1984 saem os “Poemas malditos, gozosos e devotos”. Dois anos depois, em 1986, publica os livros “Sobre a tua grande face” e “Com meus olhos de cão e outras novelas”. 1989 marca o lançamento de “Amavisse”. Com “O caderno rosa de Lori Lamby”, livro que consagra a nova fase iniciada em “A obscena senhora D”, a escritora anuncia o “adeus à literatura séria” (1990). Justifica essa medida radical como uma tentativa de vender mais e assim conquistar o reconhecimento do público. A obra provoca “espanto e indignação” em seus amigos e na crítica. O editor Caio Graco Prado se recusa a publicá-la e o artista plástico Wesley Duke Lee a considera “um lixo”. Lança “Contos d’escárnio/Textos grotescos e Alcoólicos”. O quarto livro dessa fase que, para muito, como dissemos, causou “espanto e indignação”, “Cartas de um sedutor” é lançado em 1991. O livro “O caderno rosa de Lori Lamby” é traduzido para o italiano.
Estréia, em São Paulo, a peça “Maria matamoros”, adaptação do texto “Matamoros” que se encontra no livro “Tu não te moves de ti”. Em 1992 lança a antologia poética “Do desejo” e “Bufólicas”, na verdade uma brincadeira quase infantil da autora, por muitos visto como uma paródia. Passa a colaborar com o Correio Popular, jornal diário de Campinas (SP), escrevendo crônicas semanais; o trabalho se estenderia até 1995. No ano seguinte publica “Rútilo nada”, num livro que também continha “A obscena senhora D” e “Qadós”. “Rútilo nada” recebe o Prêmio Jabuti na categoria “Contos”. Em 1994, “Contos d’escárnio & Textos Grotescos” é traduzido para o francês. No ano seguinte sai o volume “Cantares do sem nome e de partidas”. O Centro de Documentação Alexandre Eulálio, da UNICAMP, adquire seu arquivo pessoal. A escritora sofre isquemia cerebral.
Em 1997, lança “Estar sendo. Ter sido”. Seus poemas são lidos em Quebec, Canadá, juntamente com textos de Safo, Gabriela Mistral e Marguerite Yourcenar, entre outras autoras, no recital Le féminin du feu, durante as comemorações do Dia Internacional da Mulher. A edição bilíngüe (português-francês) do livro “Da morte. Odes mínimas” é publicada em 1998. Publica também “Cascos & Carícias: crônicas reunidas (1992-1995)”, volume de textos que saíram no jornal “Correio Popular”. Volta a se dedicar a questões sobrenaturais: afirma acreditar no contato dos mortos com a Terra através de mensagens enviadas via fax. Reafirma o desejo de construir em suas terras um centro de estudos da imortalidade.
Em 1999, lança a antologia poética “Do amor”. Sob a coordenação do escritor Yuri V. Santos entra no ar seu site oficial: http://www.angelfire.com/ri/casadosol/hhilst.html. “O caderno rosa de Lori Lamby” é levado ao palco sob direção de Bete Coelho e tendo no papel principal a atriz Iara Jamra. Em 2000, lança “Teatro reunido” (volume 1)”. Estréia, em Brasília, a adaptação teatral de “Cartas de um sedutor”. Estréia, na Casa de Cultura Laura Alvin, no Rio de Janeiro, o espetáculo “HH informe-se”, reunião e adaptação teatral de textos da autora. Inauguração, em dezembro, da “Exposição Hilda Hilst – 70 anos”, evento criado pela arquiteta Gisela Magalhães no SESC Pompéia, em São Paulo. Em 2001, estréia, no Rio de Janeiro, a adaptação teatral de “Cartas de um sedutor”.
A Editora Globo passa a ser responsável por toda sua obra publicada. Agraciada, em 2002, com o Prêmio Moinho Santista – 47ª edição, categoria poesia. Agraciada, em 2003, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na área de literatura, com o Grande Prêmio da Crítica pela reedição de suas “Obras completas”.
Hilda Hilst faleceu no dia 04 de fevereiro de 2004, na cidade de Campinas (SP).
Obras da Autora:
Individuais:
Poesia: Presságio – SP: Revista dos Tribunais, 1950. (Ilustrações Darcy Penteado). Balada de Alzira – SP: Edições Alarico, 1951. (Ilustrações de Clóvis Graciano). Balada do festival – RJ: Jornal de Letras, 1955. Roteiro do Silêncio – SP: Anhambi, 1959. Trovas de muito amor para um amado senhor – SP: Anhambi, 1959 SP: Massao Ohno, 1961. Ode fragmentária – SP: Anhambi, 1961. Sete cantos do poeta para o anjo – SP: Massao Ohno, 1962. (Prêmio PEN Clube – S. Paulo) (Ilustrações de Wesley Duke Lee). Poesia (1959/1967) – SP: Livraria Sal, 1967. Júbilo, memória, noviciado da paixão – SP: Massao Ohno, 1974. Poesia (1959/1979) – SP: Quíron/INL, 1980. (Ilustração de Bastico). Da Morte. Odes mínimas – SP: Massao Ohno, Roswitha Kempf, 1980. (Ilustrações da autora) Cantares de perda e predileção – SP: Massao Ohno/M. Lídia Pires e Albuquerque Editores,1980 (Prêmio Jabuti/Câmara Brasileira do Livro. Prêmio Cassiano Ricardo/Clube de Poesia de São Paulo.) Poemas malditos, gozosos e devotos – SP: Massao Ohno/Ismael Guarnelli Editores, 1984. Sobre a tua grande face – SP: Massao Ohno, 1986. Amavisse – SP: Massao Ohno, 1989. Alcoólicas – SP: Maison de vins, 1990. Do desejo – SP: Pontes, 1992 Bufólicas – SP: Massao Ohno, 1992. (Desenhos de Jaguar). Cantares do sem nome e de partidas – SP: Massao Ohno, 1995. Do amor – SP: Edith Arnhold/Massao Ohno, 1999.
Ficção: Fluxo-Floema – SP: Perspectiva, 1970. Qadós – SP: Edart, 1973. Ficções – SP: Quíron, 1977. (Prêmio APCA. Melhor livro do ano.) Tu não te moves de ti – SP: Cultura, 1980. A obscena senhora D – SP: Massao Ohno, 1982. Com meus olhos de cão e outras novelas – SP: Brasiliense, 1986. (Ilustrações da autora). O caderno rosa de Lori Lamby – SP: Massao Ohno, 1990. (Ilustrações de Millôr Fernandes). Contos d’escárnio/Textos grotescos – SP: Siciliano, 1990. Cartas de um sedutor – SP: Paulicéia, 1991. Rútilo nada – Campinas: Pontes 1993. (Prêmio Jabuti/Câmara Brasileira do Livro.) Estar sendo. Ter sido – SP: Nankin, 1997. (Ilustrações de Marcos Gabriel). Cascos e carícias: crônicas reunidas (1992 / 1995) – SP: Nankin, 2000 Antologias Poéticas: Do desejo – Campinas, Pontes, 1992. Do amor – SP: Massao Ohno, 1999.
Participações em coletâneas: “Agüenta coração”. In: Flávio Moreira da Costa – Onze em campo e um bando de primeira – Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, pp. 39-40. “Canto Terceiro, XI (Balada do Festival)”. In: Milton de Godoy Campos – Antologia poética da Geração de 45 – São Paulo: Clube da poesia, 1966, pp.114-115. “Rútilo nada”. In: Renata Pallotini – Anthologie de la poésie brésilienne – Paris: Chandeigne, 1988, pp.373-381m, tradução de Isabel Meyrelles. “Gestalt”. In: Ítalo Moriconi – Os cem melhores contos brasileiros do século – Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, pp. 332-333. “Do desejo” (fragmentos), “Alcoólicas” (fragmentos). In: Ítalo Moriconi – Os cem melhores poemas brasileiros do século – Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, pp.289-290, 293-295. “Do desejo (poema XLIX)”. In: José Neumanne Pinto – Os cem melhores poetas brasileiros do século – São Paulo, 2001. pp. 230. “Poeti brasiliani contemporanei”. Prefácio e seleção de Silvio Castro. Veneza – Centro Internazionale della Gráfica di Venezia, 1997, pp.64-75.
Em parceria: Renina Katz: serigrafias. Poema de Hilda Hilst – SP: Cesar, 1970.
Teatro : A Possessa – 1967. O rato no muro – 1967. O visitante – 1968. Auto da barca de Camiri – 1968. O novo sistema – 1968. As aves da noite – 1968. O verdugo – 1969 (Prêmio Anchieta – Conselho Estadual de Cultura, 1970) A morte do patriarca – 1969. Teatro reunido (volume I) – 2000. (com exceção da peça “O verdugo”, todas as obras são inéditas).
Traduções: Para o alemão: Briefe eines Verführers. (Cartas de um sedutor, fragmento). Tradução de Mechthild Blumberg. Stint. Zeitschrift für Literatur, Bremen, n.27, ano 15, pp.28-30, out. 2001. Funkelndes Nichts (Rútilo nada). Tradução de Mechthild Blumberg Stint. Stint. Zeitschrift für Literatur, Bremen, n.29, ano 15, pp.54-66, ago. 2001. Vom Tod. Minimale Oden (Da morte. Odes Mínimas). (Odes I, IV, V, VI, VIII, XII, XIX e poemas I e III de “À tua frente. Em vaidade”. Tradução de Curt Meyer-Clason. In: Modernismo Brasileiro und die brasilianische Lyric der Gegenwart. Berlin, 1997. Para o espanhol: Rútilo nada. Tradução de Liza Sabater. De azur. Nova York, pp.49-59, jun/ago. 1994. Para o francês: Contes sarcastiques – fragments érotiques – Paris: Gallimard, 1994. L’obscène madame D suivi de le chien – Paris: Gallimard, 1997. Da morte. Odes mínimas / De la mort. Odes minimes – SP: Nankin Editorial / Montreal, Le Noroît, 1998 (edição bilingüe português / francês). (Ilustrações da autora.) Para o italiano: Il quaderno rosa di Lori Lamby – Roma: Sonzogno, 1992. Para o inglês: Glittering Nothing. Tradução de David Willian Foster. In: Cristina Ferreira Pinto – Urban Voices – Contemporary Short Stories from Brazil. New York, University Press of America, 1999. Two Poems. Tradução de Eloah F. Giacomelli. The Antagonish Review- Scotia, n. 20, p. 61, out. 1975.
Prêmios: Em 1962, o Prêmio PEN Clube de São Paulo, por Sete cantos do poeta para o anjo (Massao Ohno Editor, 1962). Em 1969, a peça O Verdugo arrebata o prêmio Anchieta, um dos mais importantes do país na época. A Associação Paulista dos Críticos de Arte (Prêmio APCA) considera Ficções (Edições Quíron, 1977) o melhor livro do ano. Em 1981, Hilda Hilst recebe o Grande Prêmio da Crítica para o Conjunto da Obra, pela mesma APCA. Em 1984, a Câmara Brasileira do Livro concede o Prêmio Jabuti a Cantares de perda e predileção (Massao Ohno – M. Lídia Pires e Albuquerque editores, 1983), e, no ano seguinte, a mesma obra recebe o Prêmio Cassiano Ricardo (Clube de Poesia de São Paulo). Em 1993, Rútilo Nada. A obscena senhora D. Qadós, (Pontes – 1993) recebe o Prêmio Jabuti como melhor conto. Os dados acima foram obtidos em livros da e sobre a autora, sites na Internet e nos Cadernos de Literatura Brasileira (IMS) – número 8, outubro de 1999. Agraciada, em 2002, com o Prêmio Moinho Santista – 47ª edição, categoria poesia. Agraciada, em 2003, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na área de literatura, com o Grande Prêmio da Crítica pela reedição de suas “Obras completas”.
BÔNUS ( clique no link ) :
Tu não te moves de ti + Por que ler Hilda Hilst | Tatiana Feltrin