O caminho de Ciro

O caminho de Ciro

Por Vladimir Araújo

 

Diga-se antes de tudo que o candidato à Presidência da República Ciro Gomes é sim, um político inteligente, tem larga experiência política e boas ideias, ainda que muitas vezes não tão claras. Todos os seus atributos, porém, continuam não sendo suficientes para levá-lo ao seu maior objetivo, ou seja, sentar na cadeira de Presidente do Brasil.

As razões de seu insucesso recorrente (já vai na quarta tentativa) residem sem sombra de dúvida em sua postura invariavelmente pouco humilde e inegavelmente arrogante. Sempre foi assim. Tendo se tornado um ressentido, Gomes mete os pés pelas mãos a cada vez que vocifera. Seu talento para a política e seus conhecimentos em economia acabam engolidos por seus próprios atos.

Outra vez o país vê-se exposto ao risco de permanecer mais quatro anos numa aura de obscurantismo nunca antes experimentada. Ante tal ameaça, o pragmatismo deveria vir acima de tudo: para que se evite a vitória de Bolsonaro, todos os sacrifícios deveriam valer a pena. Ao invés disso, Gomes vai pelo caminho inverso. Ao chamar de polarização odienta o embate entre Lula e Jair Bolsonaro, deixa de esclarecer que polarizações sempre existiram e estarão presentes em qualquer disputa a cargos eletivos. Houve polarização entre Lula e Collor, entre Dilma e Aécio, entre Lula e Fernando Henrique. Comparar o modus operandi violento de Bolsonaro com o da campanha de Luis Inácio Lula da Silva, colocando os dois no mesmo balaio é, no mínimo, desonestidade intelectual. Nem Fernando Henrique, nem Lula, nem Temer, nem mesmo Collor, apesar de todos os reveses e contradições desses governos, nunca atacaram minorias, não aviltaram diariamente os direitos humanos, jamais se abanaram com o leque de baixarias diárias do atual governo.

As críticas políticas de Ciro Gomes a Lula podem sim ser aceitáveis. Faz parte do jogo. Dizê-los iguais é oportunismo barato. Ao optar por continuar os ataques a Lula com a agressividade que lhe é peculiar, Ciro pode estar dando um tiro no pé, vez que uma parte de seus eleitores não migrarão para Bolsonaro e a outra já percebeu que sua candidatura não vai alcançar os 2 dígitos. Dessa forma, e em sua obsessão em chegar ao Planalto, Ciro mira 2026, afinal, uma reeleição de Bolsonaro implicaria um alvo mais fácil de abater.

Dito isso, por qual caminho seguirá o candidato do PDT? Optará pela neutralidade? Talvez falte alguém que lembre a Ciro as palavras de  Dante Alighieri quando em sua Divina Comédia afirmou haver um lugar no inferno para aqueles que se mantém neutros em tempo de crise. Ou será que irá declarar apoio a quem quer que se mostre capaz de derrotar Bolsonaro? A meu ver seria esse o caminho mais óbvio, por mais doloroso que pudesse parecer. Agir assim, no entanto, poderia significar a diferença entre defenestrar ou não da Presidência um sociopata da pior estirpe, juntamente com seus acólitos.

Não esqueçamos, porém, que estamos falando de Ciro Gomes, um político que, a julgar por seus mais recentes e virulentos discursos, parece querer apostar na teoria do “ quanto pior, melhor”. Se assim for, e optando por virar cabo eleitoral de Bolsonaro, que arque com seu melancólico fim de carreira.

Vladimir Araújo é advogado, professor e Mestre em tradução.

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