A gigantesca China e o minúsculo Eduardo Bolsonaro
Em toda essa luta por conter a expansão do coronavírus pelo mundo, o papel da China tem sido extraordinário, seja mobilizando seu povo em uma amplitude e intensidade gigantescas para a luta penosa seja, depois de contido o vírus em seu território, manifestando sua solidariedade efetiva e expressiva à luta de outros povos pelo mesmo objetivo.
Por essas razões, a admiração à China tem crescido muito.
Autoridades responsáveis de vários países têm vindo a público expressar de forma enfática seus agradecimentos pelas ajudas oriundas da China, ao tempo em que realçam o gesto solidário e fraternal que tem recebido da grande nação asiática.
O Chanceler italiano Luigi Di Maio usou palavras ternas de gratidão ao se referir às 30 toneladas de medicamentos e equipamentos doados pela China e ao desembarque de especialistas chineses para ajudar na grande luta.
“Isto é o que chamamos de solidariedade”, disse ele. “Não estamos sozinhos”.
O reconhecimento, vazado em termos elegantes, com que governo e povo italiano acusaram a chegada do material trazido por avião chinês, refletia os termos escritos nas 2.300 caixas que desembarcavam na Itália e que eram os seguintes: “Somos ondas de um mesmo mar, folhas de uma mesma árvore, flores de um mesmo jardim”.
Também o Irã, ameaçado pelo coronavírus e pela arbitrariedade do governo americano, reconheceu com manifestações efusivas a ajuda expressiva vinda da China, através de oito voos feitos pela Mahan Air, uma companhia aérea iraniana submetida a sanções absurdas e ilegais do governo Trump e que a China desconsiderou.
Especialmente comovente, foi a manifestação do presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, feita por rede de televisão: “O único país que está a nos ajudar é a China”.
E agregou com sentimento: “A essas alturas, vocês todos já entenderam (o povo sérvio) que a solidariedade europeia não existe. Era um conto de fadas que nunca saiu do papel”. Terrível.
Subjacente a todo rebuliço e apreensão trazidos pelo coronavírus desde que apareceu em Wuhan, capital da província de Hubei, na China central, uma pergunta era feita. Afinal, como foi que esse vírus chegou nessa cidade de mais de 11 milhões de habitantes?
Todos os que conhecem o empenho que hoje é feito pelo desenvolvimento de bio-armas; todos os que sabem que os Estados Unidos dominam os três tipos de armas de destruição em massa, as nucleares, as químicas e as biológicas; todos os que não esqueceram que os Estados Unidos foram os primeiros e únicos até agora a lançar duas bombas atômicas sobre populações civis de cidades indefesas, matando centenas de milhares de pessoas em Hiroshima e Nagasaki; todos os que se lembram de como o próprio presidente americano George W. Bush mentiu para o povo americano e para os povos do mundo dizendo, em 2003, que o Iraque detinha armas de destruição em massa e que por isso precisava ser invadido; todos os que se chocam com o fato da guerra assim feita tenha custado a vida de 115,5 mil civis iraquianos e de 4.483 militares americanos, em oito anos; todos os que conhecem a realidade desses fatos tinham razões para se indagar se o coronavírus não foi usado como expediente de guerra híbrida contra a China. Cautelosamente, os próprios chineses perscrutavam.
Eis que um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, no dia 13 de março passado, levantou a hipótese de que “talvez o Exército dos Estados Unidos tenha trazido a epidemia para Wuhan” .
Zhao Lijian fez uma ligação entre a presença do coronavírus em Wuhan e os Jogos Militares realizados nessa cidade em outubro de 2019, dos quais participou uma delegação de 300 militares norte-americanos.
A suspeita justificada criou certo rebuliço internacional e a chancelaria dos Estados Unidos chamou o embaixador da China para explicações.
As coisas estavam postas nesses termos, quando um aloprado entra em cena para uma provocação.
Mas é que o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do não menos desnorteado presidente Jair Bolsonaro, da forma mais irresponsável e leviana possível resolve dizer, em rede social nessa quarta-feira, dia 18, que a “culpa” da emergência do coronavírus “é da China”.
É uma desfaçatez sem nome, uma agressão descabida, um insulto despropositado, que envergonha o Parlamento brasileiro e o próprio Brasil.
A razão de ser de tal ultraje é que esse senhor Eduardo, filho de quem é, quer demonstrar serviço ante o governo dos Estados Unidos, quer deixar claro, mais uma vez, que é um lambe-botas do Trump, a quem quer agradar de qualquer jeito, fustigando a República Popular da China, de quem Trump não gosta.
A embaixada da China no Brasil portou-se de maneira altiva e séria.
Disse que as palavras proferidas por Eduardo Bolsonaro “são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. (dos Estados Unidos) Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos”.
A embaixada identificou com precisão o pano de fundo do problema, o Eduardo foi infectado por um “vírus mental”.
Falou em nome do Congresso Nacional e do povo brasileiro por ele representado o presidente da Câmara Rodrigo Maia que pediu “desculpas à China e ao embaixador Yang Wanming pelas palavras irrefletidas do deputado Eduardo Bolsonaro”. As “palavras irrefletidas” são palavras insanas, torpes, de um ente alucinado.
*Haroldo Lima é engenheiro, ex-diretor-geral da ANP, membro do Comitê Central do PCdoB; foi deputado federal na Assembleia Constituinte.