NOME AOS CARROS
Por Marcelo Sguassábia
– Opala. Na pesquisa apareceu que é uma pedra preciosa. O nome tem uma sonoridade espetacular. Uma coisa nobre.
– É, mas fizemos um levantamento mais cuidadoso de informações e vimos que é considerado um mineraloide. Não chega a ser uma pedra preciosa. E é “a” opala, e não “o” opala. Estamos falando de um carro, não de uma perua. E tem mais: as maiores jazidas de opala do mundo estão na Austrália e no… Piauí!!! Estado sem glamour nenhum, vai desmerecer o lançamento. Esquece, aborta.
*******
– Bem, a próxima pauta da reunião de hoje é a escolha do nome do novo modelo Fiat. Selecionamos “Uno”. Que tal?
– Eu gosto, passa uma ideia de ser o primeiro, de estar na dianteira.
– Também achei ótimo, pessoal.
– É, né? Mas que falta de malícia de vocês… tá reprovado, pensem outra coisa.
– Por que, chefe?
– Alguma montadora concorrente vai aparecer com o Due, talvez até o Tre. E com o slogan: “Muito mais do que Uno”. Entenderam ou querem lançar no mercado e daqui a um mês tomar na cabeça?
********
– Meriva! Meriva é bom demais!!!
– Tá se achando o Arquimedes, né? Pois pra mim é uma bela de uma porcaria esse nome. Lembra “Deriva”, andar à deriva, entende? Falta de rumo e de dirigibilidade. É o pior nome do mundo pra um carro. Vai encallhar na concessionária e o pessoal de vendas ainda vai tirar uma, chamando o carro de Me Rifa. Nem pensar.
********
– Tipo? Mas o que quer dizer Tipo?
– Também fiquei boiando, pra falar a verdade. Tipo o quê?
– Tipo é tipo, não tem que ficar explicando, gente. Em italiano ou português, quer dizer a mesma coisa.
– Falta qualificação, falta adjetivação, precisa significar alguma coisa. Nominho mais sem personalidade, faça-me o favor. Tem tipo sanguíneo, tipo de arroz, de agulha de crochê, de esparadrapo, sei lá. Mas nem por isso ser de um “tipo” faz alguma coisa ser melhor que outra.
– É, a Engenharia também acha o mesmo. Vou pedir mais opções ao Marketing.
********
– Brasília é o nome sugerido. E o que mais agradou, por enquanto.
– Sim, pelo fato do projeto do carro ter sido inteiramente desenvolvido no Brasil.
– Tá, até entendo, tem a ver. É uma cidade única no mundo e tudo mais.
– Então? Vamos bater o martelo?
– O meu medo é estourar algum escândalo envolvendo a capital, compreende? O nome da cidade pode ficar marcado por alguma coisa ruim. Já repararam como tem muro em Brasília pichado com “Abaixo a ditadura”? Não, não. Melhor não correr riscos. Você tinha aí um outro nome bom, como é que é mesmo? O nome de uma ilha, se não me engano…
– Elba.
– Isso. Elba eu gosto.
– É, mas eu fico na dúvida. Eu mesmo pensei nesse nome, mas agora estou sendo advogado do diabo. Alguma coisa me diz que um carro com esse nome vai dar problema mais pra frente… e não é problema mecânico.
– Bom, sendo assim, de volta à velha máquina de escrever. Vocês vão me desculpar… mas Brasília, definitivamente, não.
( Fonte : consoantesreticentes.blogspot.com/ )