Phantom Thread, EUA, 2017
Gênero: Drama
Duração: 130 min.
Elenco: Daniel Day-Lewis, Lesley Manville, Vicky Krieps, Camilla Rutherford
Trilha Sonora Original: Jonny Greenwood
Roteiro: Paul Thomas Anderson
Direção: Paul Thomas Anderson
Não é sempre que uma experiência tão densa e tão intensa quanto ver TRAMA FANTASMA (2017) no cinema é uma opção dentro do circuito de filmes. Uma sorte Paul Thomas Anderson ter conseguido um espaço considerável dentro do cinema mainstream, para que seus filmes possam ser vistos até mesmo fora dos espaços dedicados apenas a cinema alternativo. Um privilégio e tanto. Até porque o filme chega também como sendo a despedida de Daniel Day-Lewis. O ator anunciou sua aposentadoria, mas se for mesmo o fim, é um fim digno de um gigante da atuação.
Além do mais, o papel de Day-Lewis aqui é bem diferente do de SANGUE NEGRO (2007), a parceria anterior do ator com PTA. Em vez de um personagem intenso, temos na figura do costureiro Reynolds Woodcock um homem muito delicado e sensível, embora bastante dominador. Temos aqui a figura de um artista meticuloso, que não pode e naturalmente não gosta de ser incomodado em seus momentos de criação, em especial pela manhã.
O interessante de TRAMA FANTASMA é que, ao terminar a sessão, ainda ficamos sem saber direito sobre o que é o filme. Pode ser tanto uma história de amor quanto uma história de horror. As duas coisas cabem muito bem e não são excludentes. Por isso dizer que é um filme romântico não seria errôneo, já que o termo “romântico” é muito mais amplo do que muitas pessoas imaginam. O romantismo pode e é associado à morbidez, ao sofrimento, à morte e a um amor que surge das maneiras mais estranhas.
Do outro lado da balança dessa história de amor temos Alma (Vicky Krieps), uma jovem mulher que trabalha como garçonete em uma cidadezinha e é cortejada e convidada a morar com o charmoso costureiro que tem idade para ser seu pai, em Londres. Simples e humilde, Alma parece que não durará muito no esquema cruel de rejeição com que o costureiro está acostumado a tratar suas musas. Em geral, ele escolhe a moça e, depois de um tempo, com a ajuda da irmã Cyrill (Lesley Manville, brilhante), trata de dispensá-la.
Acontece que com Alma a coisa é um pouco diferente. Principalmente quando ela começa a tomar uma atitude mais ativa para não ser deixada de lado. Ainda que a história não seja tão importante quanto a direção é, graças ao modo muito especial com que Paul Thomas Anderson pinta com tintas muito criativas e inspiradas seu conto perverso, o mais interessante é entrar na sessão sabendo o menos possível. Surpresas são bem-vindas, assim como o estranhamento que dá a TRAMA FANTASMA o seu aspecto único.
Um dos destaques do filme é a forma como o cineasta nos coloca dentro de ambientes fechados e claustrofóbicos de modo a nos deixar inquietos, mas também maravilhados. Até mesmo a posição da câmera do lado de fora de um carro dirigido por Reynolds é inusitada. Mas o que mais vemos são ações acontecendo dentro da casa, com uma escada apertada, por onde passam as várias mulheres que trabalham para o costureiro em uma espécie de ritual para a elaboração de suas obras de arte em forma de vestidos.
TRAMA FANTASMA guarda muitas semelhanças com o cinema de Douglas Sirk, e talvez também com o de algum outro cineasta da velha Hollywood adepto do melodrama, mas o que Paul Thomas Anderson retira do cinema clássico ele transforma em algo moderno e único. Ainda que possamos entender o esqueleto da trama como sendo, de certa forma, usual, isso é um dos motivos pelos quais o filme é tão envolvente e encantador, prendendo a atenção por cada detalhe do início ao fim de sua metragem. E o que é melhor: é o tipo de obra que fica com a gente por dias e dias, tornando-se objeto de afeto e admiração crescentes.
TRAMA FANTASMA recebeu seis indicações ao Oscar: filme, direção, ator (Day-Lewis), atriz coadjuvante (Leslie Manville), figurino e trilha sonora original (Jonny Greenwood).
Ailton Monteiro
(Fonte: https://scoretracknews.wordpress.com/2018/03/01/resenha-de-filme-trama-fantasma/)