Hoje semifinalista ao Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro, “Os Iniciados” traz aquele tipo de curiosidade cultural que geralmente atinge em cheio os membros da Academia. Representante da África do Sul, este primeiro longa-metragem de John Trengove (companheiro do cineasta brasileiro Marco Dutra) põe em foco um costume em que muitos jovens são submetidos que nos permite debater como determinados comportamentos ainda se configuram em nossa contemporaneidade.
No caso, os ritos de circuncisão Xhosa, na qual um grupo de adolescente são circuncidados do modo mais primitivo possível em uma convivência de alguns dias em um acampamento para “testes” de masculinidade. São assim inclusive preparados para uma vida heteronormativa que deverão corresponder quando saírem do isolamento como adultos precoces.
No centro dessa história, há Xolani (Nakhane Touré), que já passou pelo ritual e hoje exerce um papel de monitor para os novatos, desta vez se encarregando de seguir cada passo de Kwanda (Niza Jay). Vindo de Joanesburgo, Kwanda questiona os preceitos desses homens, mas também evidencia que o próprio Xolani vive uma vida de mentira, pois logo o veremos em uma relação secreta com Vija (Bongile Mantsai), eleito como o líder do acampamento.
Ao invés de tratar o enredo como um subterfúgio para construir um filme sobre um amor proibido e as suas barreiras, John Trengove, que tem no texto a colaboração de Malusi Bengu e Thando Mgqolozana, prefere corresponder à crueza da realidade, inclusive nas cenas tórridas entre Xolani e Vija em que há uma entrega que se dá mais por desejos reprimidos e menos por alguma paixão recíproca. Mesmo a resolução levemente calculada não reduz as virtudes de uma realização que contesta o cenário em que homens recorrem às ações extremas para mascarar quem verdadeiramente são em uma sociedade conservadora.
Autor: Alex Gonçalves
( Fonte: http://cineresenhas.com.br/2018/01/21/resenha-critica-os-iniciados-2017/)