“Rita Lee: Uma Biografia”, Rita Lee (Globo Livros)
por Marcelo Costa
Rita Lee Jones sempre foi provocadora, e essa biografia é bastante representativa nesse quesito, tanto que dividiu fãs e detratores, com muitos se sentindo ultrajados por Rita mijar divertidamente sobre alguns cânones de sua própria história (que se confundem com a história do rock no Brasil). Para degustar este delicado volume vale lembrar-se da máxima de Peter Hook, baixista sarrista do Joy Division e New Order, que abre um de seus livros com a esclarecedora frase: “Esse livro é a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade… do modo que me lembro”. Partindo desse mantra, Rita diminui a importância d’Os Mutantes (seu argumento frágil é de que ela “estava lá” e sabe como tudo foi feito, o que a coloca em posição preferencial frente a críticos puxas-saco) e esculacha frutos proibidos (na verdade, só o fruto guitarrista) e biógrafos (desdenhe-a: “A Divina Comédia dos Mutantes” é um baita livro) numa narrativa que opta pelo formato de pequenos contos que parecem retirados do diário de uma adolescente que mantém o mesmo tom para narrar tanto abusos sexuais quanto encontros com rock stars planetários. E tudo isso é… a verdade de Rita Lee. O resultado é um passeio que coloca o leitor na janelinha de um ônibus cuja linha atravessa a história pessoal de Rita e da música brasileira dos últimos 50 anos com vários momentos imperdíveis. O trecho final, porém, é chocolate bem amargo. “Aposentada” (ela conseguiu, nós não), ela crava: “A raça humana não deu lá muito certo (…). É um tal de política destruindo a liberdade, de medicina destruindo a saúde, de jornalismo destruindo a informação, de advogados e policiais destruindo a justiça, de universidades destruindo o conhecimento, de religiões destruindo a espiritualidade. Confie em Deus, mas tranque o carro”. Palmas!
(Fonte : www.screamyell.com.br )