WILD THING – JIMI HENDRIX

WILD THING – JIMI HENDRIX

Mais de cinquenta anos após sua morte, Jimi Hendrix (1942-1970) é celebrado como o maior guitarrista de rock de todos os tempos. Mas antes de incendiar as guitarras e o mundo, James Marshall Hendrix era um garoto tímido em Seattle, dedilhando um ukulele quebrado e com medo de um pai que iria bater nele por tocar com a mão esquerda. Trazendo a história de Jimi para a vida vívida no cenário do rock de meados do século, e com uma riqueza de novas informações, o aclamado biógrafo musical Philip Norman oferece um retrato cativante e definitivo de uma lenda musical. Com base no acesso sem precedentes ao irmão de Jimi, Leon Hendrix, que fornece detalhes perturbadores sobre sua infância, bem como Kathy Etchingham e Linda Keith, as duas mulheres que desempenharam papéis vitais na ascensão de Jimi ao estrelato, Norman traça a vida de Jimi tocando em clubes como o segregado Chitlin Circuit, onde ele encontrou racismo diário, mal sobrevivendo no Greenwich Village de Nova York, onde foi assumido pelo baixista do Animals, Chas Chandler, em 1966, e exportado para o Swinging London e o estrelato internacional. Por quatro anos impressionantes, de 1966 a 1970, Jimi reescreveu totalmente as regras do estrelato do rock, principalmente em Monterey e Woodstock (onde ele tocou sua versão infundida de protesto de “Star-Spangled Banner”), enquanto se tornava o músico mais bem pago da década. Mas tudo terminou abruptamente no porão de um hotel de Londres com a morte prematura de Jimi. Com detalhes notáveis, este livro finalmente revela a verdade por trás dessa tragédia há muito encoberta. A pesquisa exaustiva de Norman revela um jovem que era tão tímido e educado em particular quanto ultrajante em público, cuja insegurança sobre sua voz nunca poderia ser aplacada por seu gênio instrumental e cujos esforços inúteis para agradar seu pai o deixaram em busca do família que ele sentiu que nunca teve de verdade. Repleto de insights sobre os maiores momentos da história do rock. Um relato fascinante das figuras mais duradouras e cativantes da música.

Edição de Colecionador que inclui:
1 Livro em capa dura
Marcador de página personalizado
Encarte as capas dos álbuns do artista
Cartela de adesivos
3 mini-pôsteres
Copo de show temático 550ml

Eleito livro do ano pelo New York Times Book Review e Publishers Weekly.

PRÓLOGO

“ELE ERA UM CARA MUITO AGRADÁVEL”

Todos os nomes históricos do rock começaram tocando versões cover de músicas de outros artistas, geralmente fac-símiles básicas, as quais foram descartadas assim que o intérprete encontrou seu próprio som. A grande exceção a essa regra foi Jimi Hendrix, que, durante o breve tempo em que foi famoso, continuou tocando covers que iam além de meras cópias, e muitas reconstruíam a canção de maneira radical. A extravagante “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, por exemplo, foi transformada por Jimi em um ataque violento de heavy metal. Paul McCartney, que deve estar acostumado a homenagens, considerou essa cover uma das maiores honras de sua vida.
Todo mundo que teve uma canção interpretada por Jimi se sentia da mesma maneira: nenhuma mágoa com a desconstrução de seu trabalho (que, muitas vezes, já tinha vendido milhões de cópias), mas uma admiração pelas novas dimensões às quais a obra foi transportada. De fato, é amplamente aceito que o ápice de seu gênio, ao invés de composições originais como “Purple Haze” ou “Voodoo Child”, é sua versão de “All Along the Watchtower”, originalmente composta por Bob Dylan. A primeira vez que a faixa apareceu foi no álbum John Wesley Harding, de Dylan, em 1966; como de costume, era uma reflexão de suas leituras, ao invés de sua vida. O título veio de uma passagem do Antigo Testamento, do Livro de Isaías – que também continha a frase “Go set a watchman” [“Vá, coloque um vigia”], que a escritora Harper Lee pegou emprestada para um rascunho do que viria a ser O sol é para todos. Dylan situou a canção em tempos medievais por meio da sensibilidade de um poeta vitoriano, como Alfred Lord Tennyson, sua grande paixão à época.
O resultado parecia mais um retorno ao seu passado folk do que uma afirmação da sua recente conversão ao rock: uma voz solitária, tocando o violão de forma repetitiva, uma gaita com tons agudos demais para ter seu típico impacto, e nenhum rastro de sua musa poética vitoriana, nenhuma Sad-eyed Lady of Shalott. Apesar de geralmente ser recebida como uma consolidação do milagre de Dylan, ela recebeu críticas de alguns colegas por ser portentosa demais e não trazer uma conclusão. Seu antigo mentor do folk, Dave Van Ronk, até criticou a sintaxe, chamando-a de “um erro do título até o fim. Uma torre de vigia não é uma estrada ou uma muralha, e não há como percorrê-la”.
A cover de Jimi apareceu em Electric Ladyland, seu terceiro álbum após ser transplantado de Nova York para Londres e unido a dois britânicos brancos, o baterista Mitch Mitchell e o baixista Noel Redding, formando a Jimi Hendrix Experience. Ao mesmo tempo, é a quintessência do hard rock primitivo e um lembrete de que, qualquer que seja a mídia, a genialidade verdadeira exige expertise e energia sem igual, além de disciplina e humildade.
Nas mãos de Jimi, o galope sem rumo da versão de Dylan tem sua velocidade reduzida por uma sequência introdutória de acordes, simples o suficiente em sua forma, mas ainda tem uma qualidade fresca e fervente que sugere a imagem de um litoral indômito com ondas raivosas batendo nas pedras, gaivotas gritando, algas reluzindo e nuvens escuras no céu. Toda a desolação Tennysoniana e o melodrama que Dylan criou aparecem por um momento. A letra começa como um diálogo entre duas pessoas, o “Joker” – o tradicional “curinga” das cartas de baralho, com um chapéu listrado de três pontas – e o “Thief”, um ladrão, planejando escapar de algum tipo de encarceramento. Enquanto todas as sílabas de Dylan estavam repletas de ironia e ambiguidade, o barítono aveludado de Jimi conta a história de forma literal, talvez com uma leve ênfase em “There’s too Much confusion” [“Há confusão demais”] e “I can’t get no relief” [“Não consigo me aliviar”], que expressavam, por acaso, o que ele já sentia a respeito de sua nova vida na Inglaterra. Sua voz carrega a mesma convicção absoluta na contraproposta incoerentemente moralizante do ladrão. Mas sua guitarra ainda se contém; nem B.B. King conseguia ser tão piedoso com um riff.
Finalmente, quando “the hour is getting late” [“começa a ficar tarde”], um sucinto “Hey!” anuncia uma mudança que, para mim, supera qualquer outra que foi gravada desde que alguém decidiu pegar um violão e passar fios elétricos pelo meio dele, como se estivesse fazendo cirurgia por um buraco de fechadura, além de acrescentar captadores de metal, potenciômetros e alavancas, perfurando o instrumento como um dentista faria. Esqueça Eric Clapton em “Crossroads”, do Cream, ou Jimmy Page em “Stairway to Heaven”, do Led Zeppelin, ou James Burton em “My Babe”, de Ricky Nelson, ou Mark Knopfler em “Sultans of Swing”, do Dire Straits, ou Scotty Moore em “Heartbreak Hotel”, do Elvis, ou até Chuck Berry em “Johnny B. Goode”; vai, Jimi, vai.
Tudo acontece em quatro momentos distintos, dos quais apenas o primeiro é um solo convencional, com notas selecionadas tão judiciosamente e bends tocados tão elegantemente quanto B.B. faria em seus melhores momentos. O segundo é tocado com um slide de metal pelo braço, algo que, vindo de Elmore James ou Howlin’ Wolf, soaria acidentado e furioso, mas, com Jimi, parece um passeio eletrizante por uma paisagem urbana extraterrestre, cada rajada do slide agindo como um elevador brilhante, sibilantemente subindo ou descendo. Desce um, depois sobe outro, e outro ainda mais alto, até quase parecer que está dançando com o ritmo.
Depois, um trecho mais extenso com o pedal wah wah (na verdade, mais um “thwaka-thwacka”) substitui aqueles mecanismos suaves com uma voz quase humana, como se a guitarra estivesse rindo sozinha, lembrando de uma piada que só ela entende. Como não há outra forma de superar tudo o que já foi feito, o final é um trio surpreendentemente melódico de acordes agudos em uma ordem previsível com notitas tocadas com o dedo mínimo, como o chef de um restaurante com três estrelas Michelin faria para mostrar suas habilidades em um prato singelo; um frango assado básico, digamos, ou ovos pochês absolutamente perfeitos.
De volta à canção, uma torre de vigia finalmente se materializa, mas agora não é uma medida de segurança – é um ninho em um lugar elevado, onde “princes kept the view” [“príncipes ficavam de olho”]. Um drama Arturiano parece ser prometido com “two riders were approaching” [“dois cavaleiros se aproximavam”], e uma conclusão apocalíptica é profetizada com “and the wind began to howl” [“e o vento começou a uivar”].
No entanto, antes de qualquer explicação a respeito dos dois cavaleiros, quando a guitarra de Jimi começa a uivar mais alto que qualquer “furacão” a atormentar Rei Lear, tudo começa a se dissipar. Esse é o fim da música. Toda vez que eu escuto isso, eu penso a mesma coisa: não se vá.

Detalhes do produto

Editora Belas-Letras; Philip Norman edição (20 outubro 2023)

Idioma Português

Capa dura 400 páginas

ISBN-10 655537229X

 

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