Auto da Compadecida – Especial

Março de 1957 marca a publicação de uma das obras mais admiradas da literatura brasileira. Da criatividade do escritor paraibano Ariano Suassuna, chegava às livrarias do país “O auto da compadecida”. O livro trazia as aventuras de João Grilo e Chicó, dois nordestinos pobres que vivem de golpes para sobreviver. Eles estão sempre enganando o povo de um pequeno vilarejo, inclusive o temido cangaceiro Severino de Aracaju, que os persegue pela região. A história cairia de vez no gosto do público no início dos anos 2000 quando ganhou uma bem sucedida adaptação para a televisão. Há poucos dias, uma continuação da obra foi anunciada para estrear nos cinemas em 2024. Mas por que as histórias desses simpáticos personagens atraem tantos leitores e espectadores tanto tempo depois de escritas? Em LetraseLivros, uma análise completa de O Auto da Compadecida, com resenhas e artigos.

1) Auto da Compadecida

É uma peça teatral em forma de Auto em 3 atos, escrita em 1955 pelo autor paraibano Ariano Suassuna.

Sendo um drama do Nordeste brasileiro, mescla elementos como a tradição da literatura de cordel, a comédia, traços do barroco católico brasileiro e, ainda, cultura popular e tradições religiosas.

Apresenta na escrita traços de linguagem oral [demonstrando, na fala do personagem, sua classe social] e apresenta também regionalismos relativos ao Nordeste.

Esta peça projetou Suassuna em todo o país e foi considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.

Em 2000, inspirou o filme homônimo estrelado por Selton Melo e Matheus Nachtergaele e dirigido por Guel Arraes. Por muito tempo, a adaptação audiovisual foi a maior bilheteria do cinema brasileiro. 

ASIN 8520938396

Editora  Nova Fronteira; 39ª edição (31 maio 2018)

Idioma  Português

Capa comum  208 páginas

ISBN-10  9788520938393

 

2) Resenha: “O Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna

Começando o nosso projeto de ler Suassuna ao longo de 2020, nada como ser de um dos seus trabalhos mais famosos: Auto da Compadecida. A famosa história de João Grilo, o mentiroso e seu amigo Chicó que vão se meter em uma encrenca enorme. Será que João Grilo escapará da punição divina por suas mentiras?

Só sei que foi assim

Ariano Suassuna é um daqueles imortais da literatura brasileira que mereciam mais espaço. Sim, Auto da Compadecida já ganhou dezenas de versões, adaptações, alterações, manipulações e o que mais ões vocês pensarem. Mas, Ariano é muito mais do que isso. Mas, ué, por que então começar seu projeto Suassuna por Auto da Compadecida? Oras, por que eu tenho que chamar a sua atenção, caro leitor. E, como o livro é um clássico conhecido por muita gente, o leitor amigo que acompanha o Ficções vai estranhar a existência dele em um blog sobre fantasia, terror e ficção científica. A minha resposta é bem simples: Ariano é um daqueles autores que flertam com o realismo mágico usando o regionalismo para inserir elementos fantasiosos em sua narrativa. Quase todas as histórias dele tem um pé nisso: Auto da Compadecida (com o julgamento celeste e outras coisinhas mais), o Romance da Pedra do Reino, O Santo e a Porca. O inexplicável está ali não para mover a narrativa, mas para servir como extrapolação dos personagens.

Bem, estamos tratando de uma peça de teatro. Então, logo de cara preciso dizer que essa não é a maneira ideal de se ter contato com a história. Nem o cinema é. Auto da Compadecida é algo criado tendo a commedia dell’arte como inspiração. Em seu seio, a narrativa é para ser apreciada ao vivo com a nossa participação observando diretamente as peripécias de João Grilo. Esse é o ideal. Mas, a forma como ela foi inserida no papel permite ao leitor imaginar em parte como seriam as passagens do livro. Ele possui estruturalmente três atos: a apresentação, o conflito na Igreja e o julgamento. Nesses três atos temos as vozes dos personagens e em itálico estão as ações que cada um deles deve fazer durante a apresentação.

“É verdade, o cachorro morreu. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, quele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre!”

A nova edição da Nova Fronteira está caprichada. Repleta de imagens que remetem à literatura de cordel, com uma ótima diagramação, uma introdução de Henrique Oscar e um posfácio de Bráulio Tavares. O texto de Henrique Oscar é bom para entendermos parte dessa inspiração no teatro italiano, embora Suassuna seja mais livre em sua concepção de cena, de personagens e de enredo. O Palhaço funciona como narrador, embora ele participe de algumas cenas. João Grilo tem algumas características do Arlequim, embora ele tenha suas raízes mesmo no sertanejo enquanto que Chicó é um personagem…(LEIA COMPLETO)

3) 60 anos da peleja de João Grilo e Chicó

Por Mateus Araújo

O Auto da Compadecida foi um livro escrito por um jovem de 28 anos, em 1955. Inspirado nos autos medievais e, principalmente, na literatura de cordel, o paraibano Ariano Suassuna escreveu, no Recife, a peça que viria a lançar, no Brasil, um estilo de teatro popular com base no épico. Um marco na dramaturgia moderna nacional, que seria montado no ano seguinte. O livro demorou mais a sair: foi publicado em 1957.

?A Compadecida ?foi encenad?a? pela primeira vez a 11 de setembro de 1956, no Teatro de Santa Isabel, pelo Teatro Adolescente do Recife, sob direção do pernambucano Clênio Wanderley.

Durante os três dias de apresentação, a encenação resultou num retumbante fracasso de público e crítica, chegando a ser suspenso na terceira noite por falta de quem quisesse assistir-lhe. “Na primeira noite tinha metade da plateia; na segunda, metade da metade. Na terceira, decidimos suspender”, lembrava Ariano. Como avaliou o crítico pernambucano Joel Pontes (1926-1977), no livro O teatro moderno em Pernambuco (1966), a maneira com a qual Clênio Wanderley dirigia seus atores, conservando a espontaneidade de cada um deles, não conquistava os recifenses, acostumados com “primarismo” nas interpretações, nas quais “modelo e ator” estariam “demasiadamente próximos”.

Mas uma apresentação fora de Pernambuco daria uma reviravolta na trajetória da peça, aparentemente fadada ao limbo. Selecionada para participar do primeiro Festival de Amadores Nacionais, a montagem pernambucana foi encenada em janeiro de 1957, no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, sendo consagrada com três prêmios (medalhas de ouro): melhor espetáculo, melhor diretor (Clênio Wanderley) e melhor atriz (Ilva Niño).

O grupo recebe o convite para estender a temporada por mais uma semana no Teatro Dulcina, com imenso sucesso de público a cada sessão. No mês seguinte, Paschoal Carlos Magno, um dos principais…(LEIA COMPLETO)

Foto da primeira encenação da peça, em 1956.

 

4) Auto da Compadecida (resumo e análise)

Rebeca Fuks

 Doutora em Estudos da Cultura

A obra-prima do escritor brasileiro Ariano Suassuna foi escrita em 1955 e levada a palco pela primeira vez em 1956 no Teatro Santa Isabel. Auto da Compadecida é uma peça dividida em três atos e tem como pano de fundo o sertão nordestino. A obra foi uma das primeiras produções teatrais a carregar forte na tradição popular.

Caracterizada pela marcante presença do humor, a conhecida história ganhou um público ainda mais amplo em 1999, quando foi adaptada para a televisão (uma minissérie da TV Globo) e, no ano a seguir, virou longa metragem.

As aventuras de João Grilo e Chicó fazem parte do imaginário coletivo brasileiro e retratam com fidelidade o dia a dia daqueles que lutam pela sobrevivência em um meio adverso.

Resumo

João Grilo e Chicó são os amigos inseparáveis que protagonizarão a história vivida no sertão nordestino. Assolados pela fome, pela aridez, pela seca, pela violência e pela pobreza, tentando sobreviver num ambiente hostil e miserável, os dois amigos usam da inteligência e da esperteza para contornarem os problemas.

(atenção, esse artigo contém spoilers)

O falecimento do cão

A história começa com a morte do cachorro da mulher do padeiro. Enquanto o cão estava vivo, a senhora, apaixonada pelo animal, tentou de todas as maneiras convencer o padre a benze-lo.

Os dois funcionários da padaria do marido – os espertos João Grilo e Chicó – também embarcaram no desafio e intercederam pelo cão junto ao padre. De nada adiantou tamanho esforço, para desgraça da dona o cachorro morreu afinal sem ser benzido.

O enterro do animal

Convencida de que era necessário enterrar o animal com pompa e… ( leia completo) 

5) SOCIEDADE, MENTIRA E LITERATURA: UMA ANÁLISE INTERDISCIPLINAR DO LIVRO “AUTO DA COMPADECIDA”

 

Primeira edição do livro, pela editora Agir, 1957. (Acervo V.L. Araújo/www.letraselivros.com.br )

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