“Black Mirror: Bandersnatch”, David Slade (2018)
Eles acertaram. De novo. O 20º lançamento da franquia “Black Mirror” radicaliza no formato sem esquecer-se da fidelidade provocativa do roteiro, que desta vez coapta o espectador com interatividade dando a ele a ideia convidativa de que aqui ele passa a decidir a trama movendo os personagens como se controlasse fantoches quando, na verdade, ele é o verdadeiro fantoche dentro de um grande “jogo” – um tema caro a uma série que questiona vorazmente o poder incontrolável da tecnologia. A primeira grande sacada de “Bandersnatch” é romper com o velho mundo da televisão clássica, pois aqui não adianta você conectar seu computador a um aparelho de TV e dar o play sem ter um mouse a mão interagir nas decisões que serão apresentadas na tela. Ou seja, diferente de toda programação tradicional da TV, “Bandersnatch” foi feito para ser visto em desktops, laptops, celulares e Smart TVs, e se a TV já era algo obsoleto nesses tempos digitais, após “Bandersnatch” ela envelheceu alguns séculos. E isso é só o formato. No roteiro, um jovem prepara um game baseado em um livro. Ele sofre de um trauma de infância, está estafado com o trabalho e, por mais que o espectador tente amenizar seu fardo, o destino será imutável. A rigor, se seguir um caminho “direto”, o episódio pode durar 90 minutos. Se optar por caminhos mais “curtos” e saídas mais “fáceis”, o espectador poderá terminar “Bandersnatch” em apenas 40 minutos, deixando 110 minutos offlines (isso mesmo: no total de alternativas, o episódio soma 150 minutos e 250 segmentos, mas as combinações podem fazer o espectador ficar até cinco horas “em cena”) e muita informação que o ajudará a mergulhar no todo do roteiro. Fãs fizeram fluxogramas, threads com citações de antigos episódios, saída para finais secretos e sequencias para vários finais, mas “Bandersnatch” é muito mais sobre cada pessoa (e suas escolhas) do que, necessariamente, sobre o próprio episódio. Brincando com o livre-arbítrio, a equipe da série construiu outro clássico, e ainda que “Bandersnatch” não tenha o impacto de “The National Anthen” e a poesia de “San Junipero” (dois dos melhores episódios da série), está entre as melhores coisas que a equipe já produziu – o que o garante no Top 10, pois até “White Christmas”, “o meu oitavo lugar”, os episódios variam entre nota 11 e 15 (em 10). Vou te dizer: é muito Black Mirror. E é sensacional.
Ps. Escolha morrer ao menos uma vez…
( Fonte – http://www.screamyell.com.br/)