Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades
“Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”, de Alejandro González Iñarritu (2022)
(“Bardo, Falsa Crónica de Unas Cuantas Verdades”)
Silvério Gama é um famoso jornalista e documentarista mexicano que vive há cerca de 20 anos nos Estados Unidos. Na terra das oportunidades, Silverio firmou seu nome a ponto de estar prestes a receber um importante prêmio jornalístico, mas, inevitavelmente, ele sente falta de sua terra natal, uma sensação que se acentuará assim que ele pisar novamente na Cidade do México, agregando memórias e questões intimas sobre carreira, sucesso, identidade, medos, história pessoal e nacional, incertezas e mortalidade, entre muitas outras. O tema escolhido para o sétimo projeto de uma carreira portentosa (cuja filmografia conta com “Amores Brutos”, “21 Gramas”, “Babel”, “Biutiful”, “Birdman” e “O Regresso”) por um dos cineastas mexicanos mais premiados na indústria estadunidense ecoa tanto como uma provocação quanto como quase uma (falsa?) autobiografia (com algumas verdades), e o formato belamente onírico do filme conecta “Bardo, Falsa Crónica de Unas Cuantas Verdades” com “Oito e Meio” (1963), de Fellini, “Memórias” (1980), de Woody Allen, e “Sinédoque Nova York” (2009), de Charlie Kaufman, mas se diferencia pela questão identitária muito mais aprofundada, de forma até bastante crítica, o que talvez explique o fato da Academia ter ignorado solenemente o filme (de um cinco vezes vencedor do Oscar), que só foi indicado na categoria Melhor Fotografia, pois, aparentemente, os Estados Unidos podem até defender e premiar cidadãos mexicanos, mas incomoda vê-los valorizando a pátria amada e empoderando nacionalidade enquanto desdenham do american way of life do qual se lambuzaram até a alma. Poesia visual psicodélica tanto dramática quanto sarcástica, “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” é delirante e flagra Iñarritu acertando sedutoramente e errando maravilhosamente num filme que coapta esses erros e acertos para contar uma história que soa lindamente perfeita em suas imperfeições. Com algumas das cenas mais belas da temporada, “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” é grande arte.