“Athena”, de Romain Gavras (2022)
Idris, um adolescente de 13 anos de ascendência argelina, é espancado e assassinado por policiais. O vídeo do crime está circulando pelas redes sociais, e revoltando a população francesa como um todo, mas principalmente os moradores de Athena, conjunto residencial na periferia (que abriga em sua maioria negros e árabes) de uma grande cidade francesa onde vive a família do garoto, que tinha três irmãos, um soldado condecorado do exército francês (Abdel), um traficante de drogas (Moktar) e um líder comunitário (Karim), que fica completamente indignado com o assassinato racista do caçula da família. É Karim que reúne um grupo de rebeldes para vingar a morte do irmão, saqueando uma delegacia para roubar armas e planejando uma maneira de fazer com que a polícia entregue os assassinos de Idris. O irmão traficante, por sua vez, está mais preocupado com seu “negócio” enquanto Abdel tenta ser o mais racional possível diante da tragédia, buscando não derramar mais sangue, e batendo de frente com Karim, que quer ir até as últimas consequências. A relação destes três irmãos em um momento extremo é um barril de pólvora prestes a explodir, o que resulta não só em um dos grandes filmes de 2022, mas um dos filmes obrigatórios do mundo moderno. “Athena” é o filme necessário no momento certo. Filho de um dos cineastas mais políticos da história do cinema, Costa-Gavras (responsável por, entre outros, a obra prima “Z”, de 1968), Romain Gavras consegue exprimir toda a tensão do embate entre a força policial do Estado e os moradores que se rebelaram no conjunto residencial sem didatismo barato ou explicações gratuitas, acrescentando ainda um importante elemento que aprofunda de maneira genial o olhar sobre as rachaduras da sociedade atual – não só a francesa, mas mundial –, que não aprendeu nada com o passado. Daqueles filmes absolutamente brilhantes que deixam o espectador sem ar assim que acabam, “Athena” passa o recado com maestria: é preciso estar (muito) atento… e forte.
http://screamyell.com.br/site/2022/09/29/tres-filmes-blonde-ennio-o-maestro-athena/
texto por Marcelo Costa